Palestra de físico da Nasa lotou auditório da Cead/UFV
Quem chegou depois das 18h40 ao auditório da Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (Cead) na noite de quinta-feira (28) não encontrou lugar para assentar. Quem chegou depois nem conseguiu entrar, ainda que fosse para ficar de pé ou sentar-se no chão. Na plateia, não se ouvia um barulho sequer, tamanha a atenção do público para um assunto que parecia encantar a todos: a experiência de um físico brasileiro que trabalha na Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) e um dos responsáveis por levar ao planeta Marte um veículo robotizado para pesquisas especiais. “É muito bom trabalhar no que você gosta e eu me sinto feliz em contribuir para a exploração do sistema solar”, disse o físico Ivair Gontijo, contagiando o público.
Marcada para as 19 horas, a palestra começou exatamente no horário. Uma raridade para os brasileiros, mas uma regra comum para quem já é quase um estrangeiro, mas não perdeu as raízes com o Brasil e tem uma história muito parecida com a de muitos jovens que estavam na plateia.
O físico Ivair Gontijo nasceu em Moema (MG), onde estudou em escolas públicas. Fez o curso de Técnico Agrícola, no Colégio Agrícola de Bambuí (MG). Ele é graduado e mestre em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fez o doutorado no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Glasgow (Escócia). Ali desenvolveu pesquisas na área de laser e detectores de luz de materiais semicondutores. Depois, foi pesquisador na Heriot-Watt University, em Edimburgo (Escócia), e na Universidade da Califórnia (Estados Unidos).
Desde 2006, Ivair atua no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, onde atualmente desenvolve um satélite para orbitar Europa, uma das luas do planeta Júpiter, e dois satélites na órbita da Terra, para monitorar o campo gravitacional do planeta e medir os efeitos das mudanças climáticas. Na palestra que realizou na UFV contou casos, fez piadas e mostrou que a seriedade do trabalho que realiza e a competência reconhecida internacionalmente não lhe tiraram o bom humor. A plateia se encantou com o jeito divertido de contar que cientistas da Nasa podem errar no diâmetro de parafusos, que os acertos são a parte visível de projetos que deram errado muitas vezes e que assim caminha a ciência em busca dos planetas desconhecidos.
Simpático e agradável, ele contou que chegou à Nasa por acaso, mas sempre foi muito dedicado aos estudos. Ele liderou o grupo que construiu o veículo “Curiosity” que, com 900 quilos, realizou um pouso dramático em Marte, em 2012, carregado de instrumentos para estudos do planeta vermelho. Na palestra, a narração das fases da viagem a Marte parecia um filme de ficção científica. “As pesquisas espaciais já concluíram que a superfície de Marte é desolada como a da nossa lua. Mas já sabemos que muitos antes de ter gente andando sobre a Terra, houve dias chuvosos em Marte. Ciclos hídricos que formaram grandes lagos”. A possibilidade de haver água leva os pesquisadores a crer na possibilidade de Marte ser ou já ter sido habitado.
Atualmente, Ivair Gontijo trabalha na construção de satélites que pretendem chegar à Europa, uma das luas de Júpiter. “Europa foi descoberta por Galileu Galilei em 1605. Essa lua é muito peculiar porque é coberta por gelo formado por água e, abaixo desse gelo, parece haver um oceano com mais de 100 quilômetros de profundidade. As rochas geram calor e derretem gelo de água salgada, possibilitando a existência de vida no local.
Na palestra, o físico brasileiro mostrou que a curiosidade que motiva o trabalho dele é igual à de todos os que estavam na palestra. A humanidade tem estudado Marte e os planetas há mais de 25 séculos e constantemente se pergunta se há vida em outros planetas. Ele também quer saber! (Léa Medeiros - CCS/UFV).
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