Luiz Cláudio Costa fala ao Folha da Mata sobre sua passagem pelo Ministério da Educação

Luiz Cláudio Costa fala ao Folha da Mata sobre sua passagem pelo Ministério da Educação

De passagem por Viçosa, nesta terça-feira, 17/05, o ex-reitor da UFV Luiz Cláudio Costa, recentemente exonerado da Secretaria Executiva do Ministério da Educação e Cultura (MEC) fez uma visita de cortesia à redação do Folha da Mata, onde, atendendo pedido da direção do jornal, concedeu uma rápida entrevista ao jornal, falando de sua passagem pelo Ministério da Educação, onde presidiu o Inep (Instituto Nacional de Pesquisa Educacional Anísio Teixeira) e foi secretário executivo daquela pasta.
Como secretário executivo, Luiz Cláudio assumiu o cargo de ministro, por 60 dias, em substituição eventual ao titular Aloísio Mercadante, fato que garantiu a inclusão de sua foto na galeria de ex-presidentes do MEC.
Confira, a seguir, a entrevista.

Folha: Que balanço o senhor faz de sua passagem pelo Ministério da Educação?
Luiz Cláudio: A decisão de sair da Universidade Federal de Viçosa foi muito difícil, mas acabei atendendo o convite que recebi o convite do Fernando Haddad para integrar a Secretaria de Educação Superior em 2011, certo de que tinha contribuição a dar nesta área a que sempre me dediquei. No MEC participei de ações importantes, entre elas a criação de quatro universidades e do Programa Ciências Sem Fronteiras, além da consolidação do Programa Universidade Para Todos, o Prouni. Uma questão importante do Prouni: as vagas ofertadas eram suficientes para as faculdades terem renúncia fiscal. Nós mudamos a lei e determinamos que, para a renúncia, era necessário ter vagas preenchidas.
O fato mais importante, que mais me orgulha, é o parecer da lei de cotas para negros, que é meu. Foram muitas as discussões, muito trabalho e muita oposição. Eu tenho a convicção de que o Brasil tinha uma representação da educação superior que não era condizente com a sua realidade. À época, ouvi alguns argumentos. Para alguns, a lei de cotas iria aumentar o racismo nas universidades, mas não aumentou, pelo contrário. Também disseram que a qualidade iria cair, mas não caiu. Em todas as nossas análises, os cotistas têm rendimento igual ou superior aos não cotistas. Afirmaram, ainda, que só cota social já resolveria e não era necessária a cota para o negro, mas essas mesmas pessoas esquecem que o Brasil foi o último país a abolir a escravatura e quando o fez, não ofereceu meios para a inserção do negro na sociedade.
Também participei da luta com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, que é importante para que tenhamos hospitais universitários, e da criação do programa Ciências Sem Fronteiras, também de suma importância para o país.

Folha: Qual foi o seu papel no Enem?
Luiz Cláudio: Depois de integrar a Secretaria de Educação Superior, passei a fazer parte do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que presidi, por indicação de Aloízio Mercadante, que assumiu o Ministro da Educação em 2012. Lá, trabalhei com o Enem, que foi consolidado. Foi um desafio muito grande. Fiquei por lá durante dois anos. Logo após, fui pra Secretaria Executiva da Educação, quando realizamos uma série de ações. Tive a oportunidade de exercer o Ministério da Educação por cerca de 60 dias seguidos.
Agradeço muito pelos anos trabalhando com a educação. Agradeço muito a Viçosa. Acredito que contribui, de forma humilde, mas decisiva. Tentei sempre trabalhar a questão social. “O CEP" - (o local onde a pessoa mora, sua origem humilde) - "não pode definir o futuro de uma pessoa”.

Folha: Em números, o que é hoje o Enem?
Luiz Cláudio: O crescimento do Enem foi assustador. Quando assumimos o exame, em 2012, cerca de 5 milhões de estudantes faziam as provas. Esse número chegou a 8 milhões. Também melhoramos a logística.

Folha: O senhor continua em Brasília ou retorna para Viçosa
Luiz Cláudio: Continuo em Brasília, trabalhando com a educação. Sou o vice-presidente do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que é uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O programa é desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em cada país participante há uma coordenação nacional. No Brasil, o Pisa é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Folha: Qual sua visão do cenário político atual?
Luiz Cláudio: Sobre o novo cenário político, acredito que é preciso esperar, já que é um governo temporário e não há um programa de educação definido e apresentando pelo Michel Temer.
Com relação ao impeachment de Dilma Rousseff, acredito que não houve crime de responsabilidade que justificasse o afastamento da presidente.