UFV pesquisa medicamento contra efeitos de vírus transmitidos pelo Aedes aegypti

UFV pesquisa medicamento contra efeitos de vírus transmitidos pelo Aedes aegypti

A Universidade Federal de Viçosa (UFV) vem participando de pesquisa para produção de fármacos destinados a eliminar os efeitos dos vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chicungunya e da zica, já considerada uma emergência mundial em saúde pública.
O laboratório 428 do Departamento de Química – Laboratório de Química Supramolecular e Biomimética atualmente trabalha na produção de compostos orgânicos sintetizados com esse objetivo. Os estudos, coordenados pelo professor Róbson Ricardo Teixeira - coordenador do programa de pós-graduação em Agroquímica – tinham como foco, inicialmente, o vírus da dengue. Mas os resultados obtidos indicam que também poderão chegar a efeitos contra outros vírus transmitidos pelo Aedes aegypti, inclusive o zika. Além do professor Róbson, integram a equipe da pesquisa o professor Sérgio Oliveira de Paula, do Departamento de Biologia Geral, os estudantes de doutorado do Programa de Biologia Celular e Estrutural da UFV Ana Flávia Costa da Silveira Oliveira e André Silva de Oliveira – ambos professores do campus Almenara do Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG) – e a estudante de mestrado do Programa de Pós-graduação em Agroquímica Ana Paula Martins de Souza.
Desde 2014, a pesquisa vem testando compostos naturais, sintetizando-os no laboratório e avaliando-os contra uma protease específica do west nile vírus (ou vírus do Oeste do Nilo), causador da encefalite do Nilo Ocidental. Essa protease, segundo o professor Róbson, tem grande semelhança estrutural com a do vírus da dengue e um papel extremamente importante para a manutenção dele por estar envolvida em um processo de replicação viral. Isso significa que, ao inibir a protease, inibe-se a replicação do vírus.
Róbson conta que a estrutura da protease já foi determinada. O que a equipe está fazendo agora, em colaboração com a professora Rafaela Ferreira, da Universidade Federal de Minas Gerais, e com o professor Daniel Leal, da Universidade Federal do Espírito Santo, é a modelagem molecular, método que se observe a orientação preferencial das moléculas quando ligadas entre si para formar um complexo estável. O professor explica: “levando-se em consideração que a estrutura da protease já foi determinada, pega-se as moléculas ativas – já delimitadas em laboratório – e coloca-se os compostos. Isso é desenhado em um estudo chamado in sílico. Coloca-se, portanto, a protease para interagir com as moléculas e saber como acontece essa interação. As informações obtidas a partir daí vão permitir desenhos de compostos ainda melhores para que se possa avançar na obtenção do antiviral”. Se essas moléculas que estamos avaliando interagirem com regiões similares às proteases que também têm nesses outros vírus, aí obteremos uma arma bastante interessante”, prevê o professor Róbson. Poderá se ter antivirais contra dengue e zika e também contra o west nile vírus, menos falado.”
De acordo como professor, os ensaios em laboratório de avaliação da atividade dos compostos sobre a protease mostraram que eles são capazes de promover mais de 90% de inibição dela, resultado que considera bastante significativo. E compara: “para se ter uma ideia, há compostos já descritos na literatura com atividades em torno de 50%.

Outros resultados
Dentre os vários motivos que animam a equipe de pesquisadores da UFV de que estão no caminho certo é o fato de que os compostos são de fácil síntese. Tanto é assim que ela é realizada no laboratório 428 apenas pela estudante Ana Paula de Sousa. A síntese é feita em uma única etapa sem o uso de solventes tóxicos. Ela acontece em água, com aquecimento razoavelmente brando.
Todos os avanços registrados pelos pesquisadores aconteceram em 2015. Levando-se em conta que o desenvolvimento de uma droga se dá no período de 10 a 12 anos, o resultado obtido pela equipe em apenas um ano é bastante promissor na avaliação de Róbson. Ele reconhece que serão necessários muitos outros testes e que os passos até a obtenção do antiviral não são simples. Além disso, destaca que “a equipe precisa de uma coisa que está muito em falta hoje em dia: dinheiro”. Tudo isso, no entanto, não os impedirá de criar uma patente. “Se alguma empresa tiver interesse, estamos aí para colocar a pesquisa para frente. Meu sonho é ter um fármaco novo no mercado, com preço acessível e que todos possam se beneficiar”.
O professor enfatiza que as pesquisas são preliminares: “são estudos de laboratório. Nós vamos fazer a avaliação contra o próprio vírus. Mas o que nós temos até agora é bastante animador”.

Perfil
Além das pesquisas com dicetona contra os vírus transmitidos pelo Aedes aegypti, o professor também se dedica a estudos de substâncias, como o eugenol, presente, por exemplo, no cravo da índia. As modificações desse composto geraram uma molécula que vem apresentando uma atividade muito interessante, segundo ele, contra a leishmaniose, doença infecciosa, causada por parasitas do gênero Leishmania. Esses estudos estão sendo conduzidos em colaboração com a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Outra pesquisa envolve o ácido cinâmico, encontrado, por exemplo, no óleo da canela, substância que tem diversas propriedades de ação contra o câncer. Róbson informou que tem trabalhado na potencialização desse ácido, para melhorar seu efeito. Essa pesquisa vem sendo realizada em conjunto com o professor Gustavo Costa Bressan, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFV, e já obteve resultados importantes que, em breve, serão publicados, disse. (Fonte: Setor de Jornalismo da CCS/UFV)