Projeto de hidrelétrica ameaça futuro da Cachoeira Grande, em Canaã
Foi instituída, no último sábado, a Associação de Moradores e Amigos da Cachoeira Grande
Moradores da zona rural de Papagaio e Cachoeira Grande, em Canaã, estão mobilizados contra a construção de uma central hidrelétrica na região. O projeto pertence à empresa Jequeri Energia S.A. e prevê o represamento do Rio Santana, antes da queda d’água da Cachoeira Grande, importante ponto turístico que deve ser afetado com o empreendimento.
No último sábado, 27, os moradores realizaram uma reunião para discutir os impactos da obra para a beleza natural da cachoeira, para o desenvolvimento do turismo no local e para o meio ambiente. A comunidade convidou o professor Gumercindo Souza Lima, do Departamento de Engenharia Florestal da UFV, para orientar a comunidade sobre os impactos e como se organizarem para defenderem a cachoeira e participarem ativamente do processo de licenciamento ambiental.
A comunidade solicitou também o apoio técnico, jurídico e operacional do NACAB – Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens, ONG ambientalista sediada no município de Viçosa. A reunião contou com a presença de 30 agricultores e moradores locais.
O Professor Gumercindo deu esclarecimentos sobre o Projeto e ressaltou os prejuízos para a região e para a cachoeira. Durante as discussões, a comunidade identificou vários impactos, como por exemplo a retirada de água da cachoeira, já que, no projeto, a empresa propõe deixar para a cachoeira apenas 50% da vazão média dos 7 dias mais secos dos últimos dez anos.
Ainda de acordo com os moradores, a obra da casa de força para geração de energia, seu ancoramento nas duas margens do rio, as tubulações, os pátios, o desmatamento das margens e as linhas de transmissão destruirão por completo a beleza paisagística da Cachoeira Grande e comprometerá de forma irreversível o turismo na região.
Os pequenos agricultores também temem a perda da nuvem de umidade gerada pela queda d’água que beneficia a vegetação das margens e as lavouras abaixo da queda. Outro problema apontado é o fato de que a empresa, para gerar energia elétrica, deverá ser dona de praticamente toda a outorga de água do Rio Santana, não sendo possível aos agricultores e moradores ribeirinhos solicitarem autorização para pequenas irrigações.
Em relação à construção de barragens, no projeto atual consta um pequeno barramento acima da cachoeira, mas no projeto original havia um grande barramento de água, que causaria a desapropriação de vários moradores.
De acordo com o grupo, não há garantias de que, após a construção da central hidrelétrica, a empresa não queira novamente restaurar o projeto de barramento anterior. A Superintendência de Regularização Ambiental (Supram), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, sediada em Ubá, já negou por duas vezes o licenciamento ambiental desse empreendimento. No entanto, a empresa deve entrar, em breve, com novo pedido, e tem buscado apoio político na região para viabilizar o projeto.
Ainda durante a reunião do último sábado, a comunidade criou uma comissão local para interlocução junto à Supram e à empresa proponente. A comissão será registrada em cartório como nome de “Associação de Moradores e Amigos da Cachoeira Grande – AMA Cachoeira Grande”. A professora Marlei Viana, nascida às margens da Cachoeira Grande, foi eleita presidente da comissão.
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