Zona da Mata caminha para criar arranjo produtivo local da fruticultura

Primeiro passo foi dado com a criação do polo em Visconde do Rio Branco e região; participantes de audiência na cidade defendem APL

Zona da Mata caminha para criar arranjo produtivo local da fruticultura

Com o polo de fruticultura criado por lei estadual, a Zona da Mata busca agora sua consolidação por meio da criação de um novo arranjo produtivo local (APL) reconhecido pelo Governo do Estado. Esse objetivo estaria próximo de ser alcançado, mas para ser concretizado precisaria da participação e do pleno envolvimento de três setores: produtores rurais; órgãos e entidades de pesquisa, extensão e fomento; e a chamada governança, que é a instância de representação do APL.

Representantes regionais dessas três áreas, além de autoridades locais e da região, participaram na última sexta-feira (24) de uma reunião da Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que tratou do assunto em Visconde do Rio Branco, cidade-sede do polo de fruticultura.

Solicitada pelo vice-presidente da comissão, deputado Coronel Henrique (PL), a audiência da Assembleia reuniu mais de cem pessoas na câmara municipal desta cidade da Zona da Mata. O parlamentar é autor de projeto que deu origem à Lei 24.659, de 2024, que institui o Polo de Fruticultura de Visconde do Rio Branco e Região.

Fernando Barbosa, diretor de Arranjos Produtivos Locais e Cooperativismo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDE), destacou que a Zona da Mata já é um polo pela pujança dessa atividade. Mas ressaltou que para avançar nesse processo é importante que a região consiga o reconhecimento formal desse órgão como um APL.

Para ele, o arranjo é que vai garantir que as políticas do governo e das entidades cheguem aos agricultores, levando oportunidades, capacitação, informação e fomento. “Estamos com 68 arranjos produtivos locais em Minas Gerais e contamos com vocês para que se tornem o 69º APL; assim, vamos conseguir avançar”, entusiasmou-se.

Deonir Luiz Dallpal, coordenador técnico regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) em Viçosa, apresentou levantamento da situação da fruticultura na Zona da Mata. Ele informou que produtores (90% agricultores familiares) de 140 municípios estão envolvidos na fruticultura, a qual tem como principais expoentes goiaba, banana, tangerina, laranja, limão, maracujá e manga.

Ele avalia que a região tem algumas vantagens competitivas importantes que podem contribuir para a efetivação do APL: produtores já inseridos, condições de clima e solo favoráveis, remuneração adequada por área cultivada, presença de instituições de ensino e extensão e parque industrial instalado.

A fruticultura foi a atividade que mais cresceu em termos percentuais nos últimos 10 anos em Minas Gerais, estado que se tornou o quarto produtor nacional. Também reúne os produtores mais satisfeitos. Apesar do alto consumo, 63% das frutas comercializadas no CeasaMinas vêm de outros estados ou países.

Ricardo Silva Santos, chefe do Departamento de Agronomia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), defendeu a importância de os produtores se organizarem em cooperativas e outras associações.

O professor destacou a contribuição que a UFV pode dar à fruticultura, nas áreas de engenharia e tecnologia de alimentos; controle de pragas e doenças, melhoramento genético, resistência às mudanças climáticas; e ainda, preservação das colheitas e da qualidade das frutas. “Temos um passivo com a Zona da Mata, pois a UFV tem sido mais demandada por setores mais organizados do Brasil e de outros países".

Pragas, mão de obra e estradas são gargalos

Alguns técnicos e pesquisadores falaram das dificuldades enfrentadas pelos produtores, tais como a invasão de pragas na atividade, o problema para se conseguirem trabalhadores que possam atuar no ramo e a precariedade das estradas, especialmente as rurais. 

Jeferson Paes dos Santos, assessor técnico do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), lembrou que para se instituir o APL da fruticultura na região é preciso atentar para a questão sanitária. “Para produção de frutas, é preciso estabelecer uma condição sanitária que garanta os pomares sadios, que não disseminem doenças”, recomendou.

Como engenheiro agrônomo do IMA na região, ele lembrou dos Municípios de Astolfo Dutra e Dona Eusébia, com vocação para produção de mudas, os quais foram prejudicados pela introdução de pragas durante a pandemia de Covid-19. “O cancro cítrico, que nunca havia entrado na região, chegou na pandemia, em virtude do afrouxamento das barreiras sanitárias; e esses dois municípios estão pagando um alto preço, pois quando a praga se estabelece fica mais caro erradicá-la”, alertou.

Ariane Castricini, agrônoma e pesquisadora em fruticultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), considera como outro gargalo que impacta a atividade a falta de mão de obra especializada para adubação, poda e outros procedimentos. Para ela, é necessário melhorar a qualificação dos trabalhadores locais, com informações sobre nutrição, armazenamento e processamento das frutas. 

Assistência Técnica e Gerencial 

Marcos Reis, do Sistema Faemg Senar, abordou a chamada Assistência Técnica e Gerencial (AT&G), em que um técnico especializado é oferecido a 30 produtores por dois anos, sem nenhum custo. É feita uma visita de 4 horas por mês a cada agricultor, para repasse de conhecimento sobre questões técnicas da fruticultura e, especialmente, sobre eficiência financeira. Ele exemplificou com o trabalho bem-sucedido com produtores do Município de Paula Cândido.

Um dos fruticultores atendidos é Geraldo Teixeira Filho, presidente da Associação dos Fruticultores Rurais de Paula Cândido. Ele garantiu que os produtores locais terão um salto de qualidade com esse projeto: “O pequeno produtor não tem a visão empresarial; ele só quer sobreviver; então, o Senar nos ajuda a administrar a propriedade como uma empresa”.

Segundo ele, antes da parceria, de 25 produtores de goiaba, apenas quatro continuaram. Por outro lado, a evolução do manejo da cultura permitiu ao grupo produzir durante todo o ano. 

“As pragas são muito dinâmicas e aparecem na hora de você colher, e aí você perde muito dinheiro”, disse Geraldo Teixeira.

O produtor defendeu que, além do Senar, outras entidades, como a Emater e a UFV apoiem os pequenos produtores, de modo que a informação chegue mais rápido a eles. Da mesma forma, lamentou que a pesquisa das universidades só atende os grandes produtores.

Maurício de Sá Ferraz, gerente de Suprimentos da Tropical Indústria de Alimentos (Tial), revelou que boa parte das frutas utilizadas pela empresa vem de fora: o maracujá, do Vietnã; 60% da goiaba, de São Paulo; e 40% da manga, de outros estados. “Há uma oportunidade tremenda neste mercado; queremos trabalhar com o produtor, fazendo contratos de longo prazo”, propôs.

O deputado Coronel Henrique reafirmou sua atenção à Zona da Mata. “Após o ciclo do café, a região ficou esquecida no fomento à produção agropecuária; hoje temos a produção de leite e de café, mas precisamos diversificar, por meio da tecnologia, para atuar na fruticultura”, recomendou. 

Sobre a parceria com universidades, reforçou que, cem anos após a criação da UFV, não se pode decepcionar o sonho de seu criador, o presidente da República viçosense Arthur Bernardes. Coronel Henrique concluiu que o estado de Minas, e especialmente a Zona da Mata, precisam muito da Universidade Federal de Viçosa.

Por último, o deputado lembrou de leis oriundas de projetos de sua autoria aprovados na ALMG, os quais favoreceram a economia local. Ele citou, além da criação do polo de fruticultura em Visconde do Rio Branco e região: a criação do polo moveleiro em Ubá; o título a Viçosa de capital do Doce de Leite, iguaria que teve seu valor reconhecido como de relevante interesse cultural do Estado.


Fonte: ALMG