Encerramento do Ano da Paz em Viçosa

Encerramento do Ano da Paz em Viçosa

No domingo último, tendo como lema "Eu vim para que todos tenham vida e para que a tenham em abundância" e "Chega de Violência e Extermínio de Jovens", aconteceu em Viçosa o encerramento do Ano da Paz, promovido pelas quatro paróquias locais em consonância com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Após concentração dos fieis defronte ao Santuário de Santa Rita, aconteceu a caminhada pelas ruas centrais até o alto do bairro Bela Vista, onde aconteceu, com a participação de uma multidão, no Ginásio de Esportes da Associação dos Servidores da Universidade Federal de Viçosa (Asav), celebração eucarística concelebrada por diversos padres.
As paróquias publicaram o seguinte manifesto; "O rosto do colegiado dos pastores da Igreja Católica neste país, Igreja que tem sido mãe amorosa, samaritana, acolhedora, atenta aos clamores do povo, sensível às realidades sofridas e às mazelas que se impõem sobre o Povo de Deus.
Quando a CNBB fixou o ano de 2015 como Ano da Paz, encontrou guarida em muitas comunidades pelo país afora, a exemplo das nossas paróquias em Viçosa, pois aqui sentimos o rastro da morte, a dor dos que choram, o medo das famílias, a impotência das autoridades.
Em diversos momentos ao longo de 2015, as paróquias de Viçosa rezaram, criticaram, refletiram, mas também propuseram, se mobilizaram, foram presença solidária e amorosa junto às vítimas e até aos agressores, mas sobretudo, ajudando a compreender que a misericórdia, o amor e a justiça promovem caminhos de paz.
Ressaltamos iniciativas como caminhadas pela paz, visitas missionárias em regiões de conflito, articulação com a Comissão Justiça e Paz, participação efetiva de lideranças eclesiais em atividades do poder público, a articulação de ações por meio da Pastoral da Criança e do Menor com o Poder Judiciário da Comarca de Viçosa, apoio a clínica de recuperação de dependentes químicos, reflexões que promovem a cultura da paz e a defesa da vida, educação para a paz, entre outras tantas iniciativas silenciosas.
Reconhecemos que são vários os componentes que alimentam a violência no Brasil e em Viçosa: corrupção, o desprezo aos valores da família, a má formação do cidadão e a ausência do Estado nas periferias urbanas, o desprezo à vida humana, a ostentação e o consumismo. Mas, na base da violência que fere a vida do povo, especialmente da juventude, está o tráfico de drogas, que se sustenta graças ao seu sujo e mortífero lucro, que arregimenta e devora pessoas, destrói vidas, famílias, instituições e a dignidade humana.
O crime organizado, este ‘poder paralelo’ que se insere velado ou por vezes escancarado nos diversos setores da sociedade, nas instituições e sobretudo nas famílias, traz consigo outros crimes: tráfico de armas, contrabando, lavagem de dinheiro. O preço de quem se envolve é cobrado mais cedo ou mais tarde: o vício, o silêncio, a morte, a vingança, etc.
A sequência de assassinatos nos primeiros meses de 2015 em Viçosa, elevando o número a proporções maiores que a média de anos anteriores, levou as autoridades a assumirem compromissos púbicos, especialmente a partir de audiência pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, ocorrida na Câmara Municipal de Viçosa. Daqueles compromissos, poucos se efetivaram.
Lamentavelmente, notamos que o crime organizado tem tido força diante da inoperância de um Estado não gerador do bem-estar social. Estado que, responsável pelo processo de educação e re-educação, produz justiça cara, ineficiente, corrompida em alguns momentos, complacente com os ricos e desprezadora dos pobres.
Foi palavra profética aquela que o Papa Francisco pronunciou no Hospital São Francisco no Rio de Janeiro: “É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor. Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser”.
As paróquias de Viçosa, na força do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, conclamam:
Que haja esforços verdadeiros para que se alcance a paz em nossa cidade, em nossas comunidades, em nossas famílias.
Que não se tolere o crime, as mortes e qualquer violência como rotina em nossa sociedade.
Que todos os assassinatos sejam investigados. É inadmissível que o fato de alguma vítima ter envolvimento com o crime seja razão para que sua morte seja comemorada e as investigações proteladas.
Que os compromissos assumidos por ocasião da audiência pública e em outras instâncias, visando a busca da paz e a ampliação da política de segurança pública em nossa cidade, sejam implementadas.
“A Paz é fruto da justiça” ( Is 32, 17). Comprometemo-nos em nossas comunidades paroquiais, a construir pontes para a defesa da vida, a promoção da esperança, a busca da misericórdia, a educação e a reflexão constante para que haja paz. “A salvação de Deus está próxima de quem o teme e sua glória habitará em nossa terra. Misericórdia e fidelidade se encontram, justiça e paz se abraçam. A fidelidade brota da terra e a justiça se inclina do céu” (Sl 85, 10-12).
No amor e na ternura, permaneçamos na fidelidade e construamos a justiça para que Deus manifeste em nós a sua paz. Amém!"