Pauta do NPF/Viçosa mantém a recuperação da linha férrea e VLT
Moradores da rua Santana e adjacências se encantaram, mas uma vez, no último domingo, com os passeios no veículo de quatro rodas, leve e de pequenas dimensões, com propulsão por pedais, o popular trole de linha férrea, promoção de lazer do Núcleo de Preservação Ferroviária.
Exibições como esta buscam manter viva na memória a lembrança dos trens que cruzavam a cidade levando carga e/ou passageiros, como aconteceu até o fim da década de 70.
Lembra Jherson Moraes, do Núcleo de Preservação Ferroviária de Viçosa que Minas Gerais já teve a maior malha ferroviária nacional. Mas, a partir da década de 1960, no rastro da euforia nacional com a nascente indústria automotiva, começa a perder linhas e operações ferroviárias. Quando, em 1996, a malha férrea nacional foi passada em Concessão para empresas exportadoras de commodities, Minas já havia perdido metade de suas linhas. A última linha construída em Minas Gerais foi a Ferrovia do Aço, no início da década de 1970, e assim mesmo, não foi terminada. E, nestes últimos 20 anos de domínio das Concessionárias, mesmo com cláusulas expressas em Contrato de que todas as linhas e instalações concedidas deveriam ser mantidas tal como recebidas, metade do que foi concedido em Minas Gerais foi abandonado por elas, e entregues ao vandalismo. Ou seja, Minas tem, hoje funcionando, cerca de 1/3 do que já teve.
“Isto significou a estagnação econômica de regiões inteiras, a perda de um imenso patrimônio público construído em mais de século de trabalho, o agravamento das condições de mobilidade, o aumento do custo dos transportes, o aumento dos acidentes nas rodovias, o desaparecimento de milhares de postos de trabalho, e o afastamento da população do transporte ferroviário, transporte este que esteve intimamente ligado à gênese de quase 200 cidades mineiras”, lamenta, Jerson.
Revitalização da linha térrea
Segundo Jherson Moraes, a situação do projeto de revitalização das linhas férreas está melhorando a cada dia, apesar da lentidão nas tomadas de decisões dos órgãos públicos, que agrava a situação, pois depredações e invasões do patrimônio ferroviário continuam ocorrendo, principalmente no município de Teixeiras. “Pouco têm adiantado as denúncias no Ministério Público Federal de Viçosa, que alega estar ocupado com a causa da Samarco”, reclama.
Ele cita que em contraponto ao descaso do Governo Federal, o projeto de recuperação da malha ferroviária mineira tem recebido bons apoios, como o do deputado estadual Roberto Andrade (PDB), que comprou a briga pela recuperação das ferrovias em Minas Gerais, ao lado do deputado João Leite (PSDB) e dos prefeitos de Viçosa (Ângelo Chequer) e de Cajuri (Ricardo Andrade), que estão apoiando totalmente a iniciativa, assegurando que os dois municípios estão providenciando a limpeza das linhas para que seja feito o levantamento técnico das suas reais condições.
Sobre esse apoio parlamentar ele destaca o debate ocorrido no dia 12 de dezembro, e que ele considera de extrema importância para a ‘causa’: “A nosso pedido, os deputados Roberto Andrade e João Leite solicitaram à Diretoria da Assembleia Legislativa que autorizasse o evento, o que ocorreu com a presença de todos os agentes envolvidos nas concessões das ferrovias, que estão sendo renovadas em 2018, principalmente os órgãos e agências governamentais. Foi um debate de altíssimo nível, quando as empresas concessionárias foram chamadas a participar do processo de recuperação das linhas abandonadas. Todas as ONGs representativas do setor ferroviário se manifestaram e fizeram suas solicitações para que tenhamos novamente o transporte de passageiros nas linhas de Minas. Durante o debate, fizemos várias propostas, sendo que uma delas diz respeito à multa de 760 milhões de reais que a FCA – Ferrovia Centro Atlântica terá que pagar à União pelo abandono das linhas e, aproveitamos a oportunidade para reivindicar parte dessa multa que seja destinada à revitalização das linhas férreas onde existem projetos de implantação de trens de turismo; outra proposta importante feita por nós, foi para que os deputados aprovem um projeto de Lei que disponha sobre o reconhecimento do valor histórico e cultural das ferrovias no Estado de Minas Gerais.
Jherson ainda lembra que o município de Viçosa, com a participação do Núcleo de Preservação Ferroviáia, elaborou o Plano de Mobilidade Urbana, que contempla o uso da malha ferroviária para o transporte de passageiros, e que, certamente, será utilizado para o projeto de turismo agroecológico Caminho do Campo, com a implantação do Trem das Serras de Minas.
Para Jherson, reconhecer a importância histórica e cultural para Minas e para os mineiros, das linhas férreas e das suas instalações associadas, mesmo das que foram desativadas, é o primeiro passo para permitir a retomada deste modal em nosso Estado. “Isto facilitará a preservação deste imenso patrimônio, evitará o estabelecimento adicional de situações irreversíveis, e induzirá a reversão deste quadro de abandono, depredação e estagnação que tantos prejuízos, tristeza e indignação causou ao nosso Estado”.
Paralelamente ao projeto global de recuperação da linha férrea em Minas, o Núcleo de Preservação Ferroviária de Viçosa trabalha pesado na instalação de um motor de caminhão, com um sistema misto hidráulico, em um vagão de carga abandonado, na cidade de Cataguases, com o objetivo de transformá-lo em um VLT, para o transporte de 40 passageiro sentados. O projeto já está em fase adiantada e, em poucos dias, acontecerão os testes de linha. Se tudo der certo, teremos conseguido implantar uma “fábrica de Bondes (VLT – Veículo Leve sobre Trilho)” para o uso em pequenos trechos urbanos de linhas abandonadas pelo Brasil afora.
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