Entrevista com o novo comandante da Polícia Militar de Viçosa
Na última segunda-feira, 7, o tenente coronel Wallace Brandão Vidal recebeu a reportagem do jornal Folha da Mata para uma entrevista. Durante a conversa, que transcorreu de forma bastante descontraída, o novo comandante da 10ª Cia. Independente de Polícia Militar de Viçosa falou dos planos e metas dele e da Polícia para a cidade, que tem visto os índices de criminalidade – roubos, assaltos, tráfico de drogas e homicídios – crescendo ano a ano.
Veja a entrevista a seguir:
Folha: Como o senhor encara esse novo desavio?
Comandante: É um grande desafio, principalmente porque a 10ª Cia. é uma unidade nova, a parte administrativa era toda feita em Ubá e o quartel aqui se preocupava apenas com Viçosa. Agora, além de Viçosa, o quartel tem que se preocupar também com mais nove cidades do entorno. Toda parte administrativa – punição, recompensas, remanejamento, direitos e deveres dos policiais – passam por aqui, o que torna nossa missão das mais árdua. Sem contar que a criminalidade da região também é crescente. E nós precisamos fazer alguma coisa quanto a isso. Mas estamos aqui com toda vibração e dispostos a trazer nossa experiência para revertermos esse quadro.
Folha: Quais as principais dificuldades o senhor já enfrenta à frente da 10ª Cia.?
Comandante: Dificuldades todos os órgãos de segurança têm, seja a Polícia Militar, Civil ou no sistema prisional.Nosso efetivo não é o ideal, mas é o suficiente para fazer frente às necessidades. Precisaríamos de muito mais para oferecer o trabalho de qualidade que a população merece, mas com o que temos em mãos buscamos dar conta do recado e uma resposta aos anseios da sociedade. Em todas as cidades de Minas Gerais, a Polícia Militar passa por dificuldades. Para formar um policial, treiná-lo e colocá-lo nas ruas para servir a comunidade, levamos no mínimo dois anos; nesse meio tempo policiais vão saindo por aposentadoria, licença médica, férias, e nós somos um órgão que presta serviços 24 horas por dia. Sendo assim, se um policial militar falta ao serviço, temos que deslocar um outro, desfalcando setores até da administração, sendo comum os oficiais e até mesmo o comandante irem para as ruas. Enfim, vários são os problemas que a gente enfrenta, mas queremos dar uma resposta à altura.
Folha: Quais as metas para esse primeiro ano à frente da Cia.?
Comandante: Nós, como gestores da segurança pública em nosso quartel, temos que trabalhar de forma científica, sem essa de eu acho, eu gosto daquilo, eu prefiro isto, isto não existe: o trabalho tem de ser científico, calculado. Com base em dados da área de estatísticas de nossa unidade, já fizemos um levantamento, sem por culpa em ninguém que passou pelo comando, a estratégia adotada, para vermos onde precisaríamos atacar de imediato com os recursos que temos em mãos. E diagnosticamos que o maior problema na atualidade em Viçosa são os roubos e homicídios, esse com um aumento de 22% no número de ocorrências entre e 1º de janeiro até 6 de março deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. É um problema? Com certeza. Porém, os roubos também aumentaram, e na faixa de 140% a mais do que em 2015. Isso mostra que alguma coisa precisa ser feita. Nossos levantamentos mostram quem fizemos grandes apreensões de drogas, cerca de 25% a mais do que ano passado; já os furtos diminuíram em 5%, mas o mais preocupante são os roubos e no nosso mapeamento, o centro e alguns bairros próximos são os locais de maior incidência desse tipo de crime. Bairros mais afastados também têm essa modalidade de crime, mas nada como na região central da cidade. Outro dado importante é que a maioria dos roubos acontece no horário de 12 as 22 horas e geralmente em vias públicas. Em Viçosa, por causa dos estudantes, população flutuante, o movimento de pessoas nas ruas da cidade aumenta consideravelmente com o inicio das aulas da universidade e faculdades existentes aqui. Mais pessoas nas ruas, mais vítimas em potencial. A nossa meta é primeiramente prevenir e combater a possibilidade do roubo, 75% dos quais utilizando-se armas de fogo e motocicletas para realizar tais ações delituosas, ou seja, o meliante está se sentindo a vontade para andar armado. Então, a estratégia é voltar nossas forças para prevenir os roubos na região central, trabalhando para que o marginal não se sinta a vontade para praticar crimes. Para isso estamos realizando operações com um grupo motorizado com até oito motos, tendo o próprio comandante à frente, juntamente com um capitão, um tenente e um aspirante. Dessa forma estamos mostrando à comunidade que desde o soldado mais novo até o comandante, todos estão empenhados no combate ao crime. A cidade merece a nossa atenção e nós não iremos fugir à nossa missão.
Folha: A população reclama que meliantes presos pela Polícia Militar em poucos dias estão de volta às ruas. O que o senhor tem a dizer sobre essa visão de parte da população?
Comandante: A população, na sua visão dos leigos em leis, tem todo o direito de pensar dessa forma. Mas, na visão técnica, na visão do gestor da segurança pública, se a polícia prende e o judiciário solta, ou o delegado não ratifica o flagrante, ou o promotor não denuncia, não é problema da Polícia Militar. A nossa parte vamos continuar fazendo e cada vez mais. Se tivermos que transbordar o presídio por causa de prisões, nós iremos fazer. A população pode ficar tranquila quanto a isso e contar com a Polícia Militar. Não iremos ficar deitados em berço esplêndido não. Na minha primeira semana à frente da Cia., já deu para mostrar um pouco do que vem por aí.
Vamos intensificar as abordagens, já criamos uma equipe que está nas ruas, a equipe Tático Móvel trabalhava só à noite, quando a criminalidade se faz mais presente. Mas em nossas estatísticas verificamos que durante o dia também tem aumentado a ação dos marginais e, ai, trouxemos a equipe também o período diurno. Dessa forma vamos blindar o centro da cidade, onde concentra a maior circulação de dinheiro, onde as pessoas vão pagar suas contas, vão aos bancos, ou seja, os locais mais visados pelos marginais. se tivermos que prender a mesma pessoa 500 vezes, vamos prender. Se prendemos hoje e amanhã ele está na rua, vamos prender de novo, se tiver que voltar no mesmo dia para à delegacia vai voltar e nós não vamos desanimar por isso não. As pessoas de bem podem ficar tranquilas que o nosso trabalho será feito até que as leis mudem e comecem a beneficiar o cidadão de bem.
Folha: Viçosa já há sete assassinatos registrados em 2016, a maioria relacionadas com o tráfico de drogas. O que a Polícia Militar tem feito para coibir o tráfico de drogas no município?
Comandante: Uma coisa temos que observar: o aumento da curva criminal não é de agora, vem desde o ano passado. O sinal vermelho da violência vem mostrando que algo precisa ser feito e pouca coisa tem sido feita. Estamos ainda tomando pé da situação para tomarmos medidas para reverter isso. As prisões por tráfico de drogas, que aumentaram em 25%, não surtem efeito de hoje para amanhã. O marginal tem que sentir que a polícia está atuante, está presente em pontos e horários em que antes não estava, que as abordagens são frequentes. Isso certamente incomoda o meliante, e a médio e longo prazos os resultados vão aparecer. O tráfico influencia realmente na questão dos homicídios, todo homicídio tem origem no conflito, ou seja, um conflito que não foi resolvido entre as partes deságua no uso de arma de fogo. Nesses casos, dificilmente os órgãos de segurança vão conseguir interferir preventivamente, pois, se o camarada está disposto a matar o outro, ele vai cometer o crime na hora que a polícia não estiver no local. Hoje trabalhamos em conjunto com a Polícia Civil na tentativa de pinçar os meliantes envolvidos com o tráfico.
Folha: Recentemente o senhor deu inicio a “Operação Cavalo de Aço” com o objetivo de combater os assaltos no centro da cidade. Como está o andamento dessa operação?
Comandante: No primeiro dia da operação conseguimos apreender cinco motocicletas e uma arma de fogo. Já no dia anterior em Coimbra, foram duas armas de fogo e uma motocicleta com placa adulterada. A operação vai continuar tanto as blitz como também a equipe motorizada se deslocando pela cidade para proteger o cidadão de bem.
Folha: O que a população viçosense pode esperar do novo comandante da 10ª Cia. Independente de Polícia Militar?
Comandante: O que eu tenho a dizer à comunidade através desse jornal é que nós estamos chegando com toda a disposição. Nós não iremos descansar. Mesmo com as limitações de nosso efetivo, iremos colocar todos os policiais nas ruas e intensificar as abordagens, vamos fazer operações, trabalhar em conjunto coma a Polícia Civil e a Prefeitura. A propósito, já estamos estudando ações conjuntas com a Polícia Militar de Juiz de Fora, com o emprego de helicóptero, batalhão de choque, cães adestrados. Ou seja, o que for necessário para fazer com que os marginais parem com esse ímpeto de roubar, transgredir e matar, nós vamos fazer.
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